Aquele cujo os cadarços
Estão apertando
Na calada da noite
No momento que eu
Tão experiente em dor
Tão qualificado em lamentar
Puro sangue
Tão desordenado
Afetando minhas lágrimas
Ativando meu abraço próprio
No momento em que eu
algumas canções deixam nosso coração miudinho. cada agudo funciona como uma costura que aperta, que afeta sem medo de rejeição. o refrão gira em torno de muitas lembranças que permitem fechar os olhar, pensar, sorrir, até chorar de saudade. as trilhas sonoras dos livros de amor fazem a vida viajar e traduzimos outros idiomas ao pé da nossa letra. olhos nos olhos, correndo pra boca, mordendo de longe. as músicas são nosso flúor.
eis que uma música nova surge de forma aleatória, causando o mesmo impacto, a mesma dor, a mesma curiosidade e vontade de retornar ao passado e viver como se fosse o presente mais bonito de natal dos últimos tempos. parece que não temos tanto tempo para viver, ou que daqui pra frente as coisas não irão se desenrolar. mas temos então o refrão, que continua girando em torno de tudo que foi melhor na vida. então, que coisa mais estranha a sensação de ouvir uma música que nos infiltra como um remédio injetado na veia em grande proporção. que estranho tentar engolir com água os nós que as melodias trazem. que maluquice é essa de ser dominado por sons de violão e letras com frases de efeito.
reflito então que queria ter feito muitas músicas, mas não fiz. queria ter feito vários caminhos, mas não fiz, então me entrego aos sons dos bandolins de montenegro ou violas de sater e me faço livre e entorpecida quando tenho fones.
Camila Barros
leia ouvindo: Placebo - Protège moi
(https://www.youtube.com/watch?v=78gnqecSEw8)
não sei que horas
seu olhar deixou de ser brilho e se tornou
queimaduras em quinto grau.
não sei que horas
a tua saliva no meu corpo
se tornou o temporal
que devasta todos os muros
e destrói todos os móveis.
você desfez minha casa
ou o sonho dela.
não sei que horas
o automóvel se tornou
insuportável.
a cama se tornou um sonho
impossível de acontecer.
não sei que horas
meu sorriso entrou em estado de alerta
e as minhas obturações ficaram à mostra.
protège moi, eu pedi
mas seu abraço
era um estado de nada
e o espaço entre mim
e a solidão foi a única coisa
que, dolorosamente
me alimentava.
você desfez meu sonho
até os que eu não conhecia.
não sei que horas
fiquei a mercer da própia vida
cultivando os ferimentos do meu corpo
como troféus de lutas
que eu jamais quero transar de novo.
não sei em que momento
a tua fala se tornou
meu maior desespero de não ouvir.
não sei em qual momento
eu desapareci da minha própria vista.
você comeu meu mapa,
meu caminho de voltar...
Camila Barros