segunda-feira, 26 de maio de 2025

play

algumas canções deixam nosso coração miudinhos. cada agudo funciona como uma costura que aperta, que afeta sem medo de rejeição. o refrão gira em torno de muitas lembranças que permitem fechar os olhar, pensar, sorrir, até chorar de saudade. as trilhas sonoras dos livros de amor fazem a vida viajar e traduzimos outros idiomas ao pé da nossa letra. olhos nos olhos, correndo pra boca, mordendo de longe. as músicas são nosso flúor.

eis que uma música nova surge de forma aleatória, causando o mesmo impacto, a mesma dor, a mesma curiosidade e vontade de retornar ao passado e viver como se fosse o presente mais bonito de natal dos últimos tempos. parece que não temos tanto tempo para viver, ou que daqui pra frente as coisas não irão se desenrolar. mas temos então o refrão, que continua girando em torno de tudo que foi melhor na vida. então, que coisa mais estranha a sensação de ouvir uma música que nos infiltra como um remédio injetado na veia em grande proporção. que estranho tentar engolir com água os nós que as melodias trazem. que maluquice é essa de ser dominado por sons de violão e letras com frases de efeito.

reflito então que queria ter feito muitas músicas, mas não fiz. queria ter feito vários caminhos, mas não fiz, então me entrego aos sons dos bandolins de montenegro ou violas de sater e me faço livre e entorpecida quando tenho fones.


Camila Barros

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

ruptura

leia ouvindo: Placebo - Protège moi
(https://www.youtube.com/watch?v=78gnqecSEw8)


não sei que horas
seu olhar deixou de ser brilho e se tornou
queimaduras em quinto grau.
não sei que horas
a tua saliva no meu corpo
se tornou o temporal
que devasta todos os muros
e destrói todos os móveis.

você desfez minha casa
ou o sonho dela.

não sei que horas
o automóvel se tornou
insuportável.
a cama se tornou um sonho
impossível de acontecer.

não sei que horas
meu sorriso entrou em estado de alerta
e as minhas obturações ficaram à mostra.

protège moi, eu pedi
mas seu abraço
era um estado de nada
e o espaço entre mim
e a solidão foi a única coisa
que, dolorosamente
me alimentava.

você desfez meu sonho
até os que eu não conhecia.

não sei que horas
fiquei a mercer da própia vida
cultivando os ferimentos do meu corpo
como troféus de lutas
que eu jamais quero transar de novo.

não sei em que momento
a tua fala se tornou
meu maior desespero de não ouvir.
não sei em qual momento
eu desapareci da minha própria vista.


você comeu meu mapa,
meu caminho de voltar...

Camila Barros


quarta-feira, 13 de novembro de 2024

é tudo sobre você

leia, devagar, ouvindo: boy epic - dirty mind 
(https://www.youtube.com/watch?v=Q6g6ryLYoQ0)


é tudo que te envolve
a tua mão passando em mim
adivinhando todas as minhas costelas
e acelerando todos os meus órgãos
cuidadosamante e devagar

é teu peso 
que me esquenta
é tua boca que me molha
muito mais forte que um temporal

ah, mas são teus olhos
concentrados em mim
tua mão na minha nuca
teu dedo 
nos meus lábios prestes a me escolher

são teus dentes me mordendo com uma leve força
muito perto de estourar um balão
é teu rosto limpando o suor
na minha barriga
que a cada movimento teu, treme

é tudo que te envolve 
que me tira de lugares extremamente confortáveis
e me leva para fogueiras muito grandes
é tudo sobre tuas coxas
sobre teus braços que me alcançam 
é tudo sobre a textura da tua pele
que se movimenta em mim...


camila barros



um adeus que eu não quis

não me deixe só
que corro o risco
de perder a contagem das estrelas

não me abandone
pois a saída fica bem mais longe
quando você não está perto

me traga o sol
quando voltar da tua viagem 
durante o dia

me traga o sal
para que eu possa
entrar no mar em segurança...

e foram pedidos feitos em vão
perto da tua orelha
que não escutava tão bem

você foi embora
e ninguem mais embalou
com minhas poesias

você sumiu do mapa
daquele que escrevi 
declarações na parte de trás

fiquei em perigo
longe da tua fala
mais precisamente
da tua boca


camila barros