Sétima Guerra

eu estive armada até
os dentes tremerem
Hiroshimas explodiram
e, na verdade
levaram muitas coisas embora

não existem mais braços
nem abraços quentes
e eu lutei tanto
que por fim
quebrei meus dentes

eu tive febres e
minhas pernas davam nós
procurando tua casa

eu tive a sensação de surdez
ao não ouvir tua voz perto
eu estive esperto
quase que o tempo inteiro

mas era tanta explosão
que nenhum caminho se manteve
totalmente são

eu estive armada até
não poder mais

policiais me prenderam e me levaram
me acusaram de injúria
contra minha própria vida

então, por uma questão de segurança
nunca mais fui filmada.

Camila Barros

Equilibrador, segundo ele

andando numa corda bamba
consigo ler
cada capítulo que fui.
consigo alcançar e ler também
todas as páginas, apesar dos ventos.

é como alcançar a fruta 
na árvore-do-tempo

eu até me desafiei
dancei na corda
quase caí na borda
do espaço das coisas que 
quero e não quero ser

eu escolhi minhas coisas:
andar mais e atravessar

é como alcançar a vida
de bandeja, com todas as cores
na sua forma imperfeita de ser
como se eu não pudesse perdê-la

Camila Barros

Oração

foi encontrar meus olhos nos teus
e tudo se fez em bolhas
frenéticas e incontroláveis.

junto disso, um sorriso incontido
junto com a vontade de morder a vida.
junto com a vontade de correr o tempo
na tua pele, de baixo pra cima.

foi encostar tua mão na minha,
como um espelho que nos reflete assim
totalmente diferentes mas
ainda assim, tudo se fez em bolhas
e folhas que voavam na direção
daquilo que parecia correto de ser
tão natural...

junto disso, respiramos juntas

não tão distantes

como se o amanhã estivesse

perto demais de chegar

e esse amanhã fosse o fim do filme.

junto disso, nos abraçamos

e parecia que eu encostava

na energia das nuvens

gerando uma chuva sem sal

mas gostosa demais

foi despretensioso e eu abracei tuas costas

embolei no teu cabelo e

criei elos e acordos que você descobrirá

corri para estar sempre perto da tua saliva

pra passar o calor e a agonia.

foi encontrar teus olhos,

encostar minha mão na tua.

foi como respirar com calma na tempestade.

e eu corri para estar perto de você

como se isso fosse a salvação de todo mal, amém.

Camila Barros

Sobre tecer algo inacabado

escrever é a forma mais acidental de se viver
tudo ao meu redor é poesia
tudo tem uma rima, tudo tem uma cor diferente.
escrever poesia é a forma mais estranha
de nunca se sentir só,
mesmo a solidão sendo um estado gasoso no meu interior.

escrever, ou transcrever, eu diria
é a maneira mais transparente de ver
mesmo não vendo por inteiro.
a escrita é vazia e cheia
é bonita e as vezes amarga
é brilhante, mas as vezes faz doer incansavelmente.

escrever é lembrar que você me leu e
deixou tudo aquilo tomar conta do seus olhos!
e te ver chorar é a prova maior que
entre o papel e os olhos
existe uma substância que ningém explica.

ser poeta é não cansar de falar da mesma coisa
de diferentes formas. escrever é a forma mais acidental de se viver

Camila Barros