A rede que pesca o peixe alheio.
cb
sábado, 9 de maio de 2015
quarta-feira, 6 de maio de 2015
100 chaves da porta do teu armário
abri a porta da tua parte
e a chuva lanceou água em mim.
tua coleção de Saramago ainda tava lá,
sem vírgulas.
e de cabide em cabimento
eu fui livrando
livro por página,
me livrando de tudo quase.
Sara,
abri a tua parte que era em mim
e Pachelbel tocou em ré...
doce e calmo;
e Saramago.
e dia à calendário,
abri as frestas para a claridade
e de tom em faixa
eu me molhei
e joguei o molho fora.
Camila Barros
a semana começou
mas eu nem acordei ainda.
o dia me bronzeou
e levou toda calmaria da minha pele...
levou toda agonia junto
mas me deixou com outra dor
que há de doer.
a semana já começou,
as pessoas me deram abraços
mas eu não abracei ainda.
a tarde já é segunda-feira,
a feira já acabou
a semana começou de novo
e eu ainda sou o mesmo.
e essa dor ainda há de doer!
a dor de não existir
sabendo que deve existir
e de sonhar
sabendo que tem que acordar
a dor de me antecipar,
de beber o que não posso beber
e morrer envenenado todos os dias.
a semana começa todo tempo
eu preciso começar o tempo todo
os remédios, joguei fora
os cobertores também
resta só os meses passados
e as semanas que me consumiram sem eu mesmo entender.
e a dor, talvez, irá doer.
Camila Barros
segunda-feira, 4 de maio de 2015
é difícil perder algumas coisas..
a página do livro,
moedas de um real,
o que não é mais seu,
e o que nunca foi..
é difícil perder até as frases eufêmicas que eu usei
para me aliviar que você foi embora.
perder é difícil
é um edifício com janelas iguais,
escadas iguais
tudo, milimetricamente igual,
quando você só precisa da porta verde para sair.
é difícil perder algumas coisas..
a possibilidade de,
o caminho do teu quarto,
as tuas roupas que davam em mim..
é difícil...
perder-se a pose
perder-se a posição
não se sabe se é tampa ou panela,
mas pouco importa
o mais difícil foi perder o papelão que eu usava pra acender ou ascender aquele fogo todo.
Camila Barros
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