segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Baú com alça



guarde as tintas que eu chorei
que tu ainda há de pintar o céu.

guarde meu sorriso
em todas suas formas,
que tu ainda há de chorar.

guarde as mordidas que eu deixei
que tu ainda há
de desejá-las.

guarde tudo que puder
na sua bolsa vintage.

guarde meu sono musical
pois tu ainda sentirá falta dele
ao dormir com o silêncio das venezianas.

guarde o vermelho da minha boca
e o banho da minha saliva.
e quando quiseres tudo de novo,
guarda tua vontade...

o tempo é generoso,
a gente vai se encontrar!


Camila Barros


alguma coisa me puxa
pelo fio da garganta.
me engasgando e engolindo
de forma desordenada!

ninguém mandou,
ninguém pediu.
mas alguma coisa me puxa.

alguma coisa me custa
numa via onde cabe
as duas mãos voando.
e não saber onde ir
me atrapalha mais.

Camila Barros

domingo, 22 de novembro de 2015

pudera eu desenrolar teu cabelo,
enquanto observo teu olho preto.
pudera mais ainda
chegar o mais perto,
bem perto,
pra saber do teu pelo,
da tua pele,
de todas as partes
e da tua pitada de sal.

pudera saber
dessa hora salgada que teu corpo escorre.
enquanto eu corro,
madrugadamente,
pela maciez do teu colo.

ah,
pudera!
quisera tu os meus investimentos...

Camila Barros


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Um gole



eu medi as palavras
como quem mede o rio.
não quis afogar-te
e me afoguei
- assim -
sozinho.

Camila Barros

domingo, 8 de novembro de 2015


maçã, que não serve na tua boca;
raiz, que não pertence ao teu solo.

assim sou eu.
desenhador de uma estrada
na limitação da minha instância
que planta,
sem insistência,
um olhar amoroso sobre o teu.

Camila Barros

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Clovis e o Mar




a ligação vem pelos meus pés.
a areia come boa parte dele,
fora isso
me afunda e me conta
dessa água molhada e
inquieta que é o mar.

o mar
que grita tudo
que não consigo gritar
em espumas
em plumas
me pegando sempre
pelos pés.

Camila Barros

domingo, 1 de novembro de 2015

Talvez em Francês



tu que canta
a tua língua sobre meu ouvido, ouve
meu coração aflito
voando dos braços aos pés.

cante-me a canção que me acalma
e que reveste os órgãos
mais desorganizados
dentro aqui.

cante mais,
cante qualquer gota ou
qualquer saliva
dentro dos passos
que eu preciso arrumar
com tua música
(batendo)


Camila Barros