sexta-feira, 29 de abril de 2016

Olhando o bloco passar

"Era fevereiro. Ele beirava à janela o mês inteiro! Via pernas, saias, caixas, trompetes. Via morenas, via crianças banguelas (mostrando como as coisas renascem sempre); ouvia novas músicas e sempre um novo jeito de dançar.
Ainda em fevereiro, procurava na multidão a havaiana azul e branca... Passava sol, entrava lua, voltava sol e lá estava ele em busca daquele calçado, que muito provavelmente estaria mordido.
Mais luas, mais sol, e os dias do mês dois findavam e não havia havaiana..."

Ele nunca mais viu um par, aquele par... Mas até hoje, por todos os anos, escrevem crônicas sobre Pirlo, o cachorro do Sr. Francisco. Até hoje nos fazem acreditar que amores podem ser verdadeiros, que podem curar todo mal. Que amores cultivados são fogueiras nas articulações de qualquer um. Um Jornal que nos faz acreditar que amores de carnaval podem dar certo. Um amor entre um Francisco, um par de chinelo pra morder e um Pirlo.

E todo ano continua a mesma coisa. Ele debruça-se na janela, procura seu dono e todos que passam, gritam: Vejam! É o cachorro que fica olhando o bloco passar..."


Camila Barros
Foto: Alciclene Araújo



terça-feira, 26 de abril de 2016

sumário



toda história acaba
e um novo capítulo vem.

minha vida 
tem um pouco de tudo:
de gente poesia,
de gente curta metragem,
longa metragem
porcentagem...

tem gente trilogia
gente página,
gente capa.

sempre dói
mas toda história acaba
e um novo modo nasce
um outro capítulo vem.

pois toda história
tem uma última coisa.

camila barros

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Um pantanal nos teus cabelos


a árvore balança tanto...
me mostra a força que 
o mundo exerce sobre ela; 
e vice versa.
ainda comenta de leve, bem leve, 
da vontade que eu tenho 
de exercer uma força 
descontraída sobre teu corpo.
comenta da desordem,
e comenta do frio que me dá 
quando imagino as coisas acontecerem.

feito árvore e ventania.

camila barros

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Newspaper de antigamente


pensei esses dias
se era bom ler as notícias antigas
daquele jornal amarelado...

pensei esses dias
se era bom viver os vãos antigos
para saber se as coisas
ainda ficarão amareladas.

depois disso, ainda fiz café!


camila barros

domingo, 3 de abril de 2016

Intermitente


eu abandono coisas.
se as encontro novamente
acho completamente
complicadas.

o que mais doeu deixar
foram os amores que me ferveram.
os amores que eu afoguei
com milhares de cervejas quentes
e que no outro dia
só me fizeram mal.

abandoná-los foi o contrário de bom.

eu deixo tudo por ai,
inclusive alguns dentes, olhos...
eu deixo abraços esperando,
deixo intenções caladas
botas,
pernas.

assim como
me tornar abandonado por mim
foi mais ainda
o contrário de bom.

eu deixo muitas coisas
boas e ruins,
mas a última que eu deixei na parada de ônibus
me atormentava e me tirava do lugar;
me afogava de beijo
e me ensinou o intuito desse mar.

esse mar que é parecido comigo
que traz a onda, esquece por aqui
e depois morre de saudade.

camila barros