quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Próximo ao centro


oitenta meses
você ficou sem reclamar;
eu nada dei-te
nem enfeite, nem sombra, nem mar.

oitenta meses
você alugou e se instalou.
fez-me perguntas e minha janta,
e não se importou se havia
algo fora do lugar.

oitenta meses...
e eu garçonnière!
me dediquei somente à febre;
na doce e amarga sensação de estar.

oitenta luas
e você aqui;
oitenta vezes
e você me olhou,
e a cada vez que piscava o olho
era como se pedisse as chaves
de mim; compartimento.

camila barros


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Que horas a gente começa?

calma,
tenha calma,
que eu não sou tão fácil assim.
tenha hora,
tenha chuva;
muita coisa queima em mim.
tenha nervo,
tenha tato, e
me diga sim!
me diga o que
eu quero ouvir;
que é qualquer coisa
que venha de você,
e que venha me dizer
que você está aqui.
que você é a melhor parte do filme,
a colcha nova, a cerveja gelada.
tenha calma,
venha me dizer que veio
juntar os estilhaços
da janela que eu quebrei
quando tentava respirar...
tenha calma, muita calma!
eu preciso de você perto;
preciso que seja
o ponteiro maior
me encontrando aqui
sempre que pode.

camila barros

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Wagner e as Valkirias




Wagner deixou-me em fúria.

a cama ficou desarrumada,
as blusas que experimentei
                                           estão pelo avesso.

o meu outro sapato ficou emborcado,
deixei a toalha molhada
                                     em cima da cama.
o café saiu ruim,
           meio sem sal.

Wagner deixou-me em fúria.

deixei a luz acesa,
peguei o caderno errado;
                                   perdi toda a matéria.

e em fúria eu continuei
                      o resto da semana
planejando me arrumar.


camila barros

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Imagine os dragões

minha cabeça
tem velocidade suficiente
para ir
onde eu
ainda não posso.

meu corpo tem
força suficiente
pra mover meu coração
como nenhum amor
moveu
até agora.

meus olhos fechados
e a música
que eu ouço
são mais profundos
que aquele poço que
eu via quando criança.

agora imagine os dragões...?

camila barros