sexta-feira, 23 de abril de 2021

Morno, quase sem sal

não leio mais bons poemas como antes.
nada me faz arder
e o sofrimento alheio
é só alheio.

nada mais mexe comigo.
as comidas
temperadas ou não
não matam minha fome.

nem as lembranças
de outrora
ou aurora
ou qualquer coisa que 
escrevia antigamente
me afeta mais.

só toca aqui
uma playlist meio "bad".

eu escolho imagens 
mais por acaso que nunca
e as obras de arte
são só cores.

dizem que as dores escapam por lá
mas não cheguei ainda
nessa página do livro.

acho que perdi alguma coisa.

camila barros

Maquinário

eu luto numa montanha
nada favorável.
a montanha sou eu
e o tempo, o clima,
a inclinação e até a temperatura
- que não está nada favorável - 
também sou eu.

eu luto numa montanha
nada agradável
a olho nu.

pelo menos
há uma engrenagem.

camila barros

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Feito água

desculpa a bagunça, sabe?
é que os meus cômodos estão
um pouco fora do lugar
não é nada com você
são livros que estão fora de ordem
e panelas sendo tocadas
ao invés de tambores...
são vizinhos que vejo
da janela da frente
falando de amores
que nunca viveram...
que grande mentira!

mas vai desculpando
a bagunça que eu tô fazendo
pode ser que daqui a pouco
aquela organização que costumava cantar
retome feito água.

Camila Barros