terça-feira, 30 de julho de 2024

Na minha casa

eu deixo você molhar meu poema
mas só se for pra deixá-lo nossa cara
de tanto suor
durante a madrugada
onde ninguém sabe o segredos
daqueles que se amam.

eu deixo sim você me ler
e sobir montanhas por mim
se cansar e deitar
sobre as pedra no meio do caminho
e depois iremos tirá-lá
para caminharmos ainda assim
lado a lado
onde ninguém imagina
o incêndio que é 
quando você pega na minha mão.

eu permito que você 
pinte minhas pupílas em aquarela
permito que você me observe de perto, bem de perto
onde você é capaz de atravessar
o caminho que vai dos meus olhos
até minha boca
numa intenção possível de acontecer.

eu aceito você deitar no meu colo
para ouvir meu coração
e colocar em partituras
a música que só Ludwing van Beethoven
é capaz de ouvir
dentro do silêncio que eu sou.

então entre; seja bem vinda.


Camila Barros

Comentando sobre você

eu falarei do teu sorriso
e de como cada pedaço dele
me morde de leve
mesmo de longe

eu falarei dos teus olhos
e de como eles se movimentam
fechando, mas se abrindo
e eu me sinto vigiada

quando eu te encontro
minhas pupilas dilatam e saturam.
teu corpo é o quadro 
mais bonito de se ver

nenhum ano novo
brilha mais que tua cor.

nenhum som
soa mais honesto que tua voz.

fiquemos a sós, então...


Camila Barros

terça-feira, 23 de julho de 2024

Ainda sobre o tempo em que as bombas acabam


já é tempo de jogar um rio
nas bombas que envolviam nosso pescoço
sim, já é tempo de não falar 
das guerras quentes,
de deixar esfriar aquela água
que serviria para preparar o café 
que tanto aguardamos.

é tempo de jogar dados 
para escolher a própria sorte

é hora de ignorar as fagulhas 
que respingam na nossa pele
e que não machucam

sim, chegou o momento de guardar
o diploma de amor que ganhamos 
quando nos beijamos a primeira vez
pois naquele momento 
eu compreendi Alexandria inteira.

é hora de despendurar o quadro
que tinha toda a essência
subjetiva do teu sorriso.
pois não quero ver as possíveis cores
que rodeavam sua vida.

venderei o pedaço
do seu coração que me deixou
como um alabastro, por 1,99
na tentativa de amenizar
qualquer calor que ele
tenha me proporcionado

é hora de tirar a magia
dos teus dentes, que quando me mordiam
eu ignorava toda obturação

é hora de enrolar meus dedos
em linhas de costura
e desaprender o caminho de percorrer
que começava na tua testa
passando pelos teus seios e
terminando na insanidade da noite
e no perder das horas
da dança dos teus pés

é hora de jogar os dados 
para escolher a própria sorte

é o momento de esquecer
a proposta matemática de quando
eu contava os pelos da tua coxa
para meus graus melhorarem

e preciso deixar salgar
aquele sangue fino
que passava veia cava a dentro
na tentativa de tornar
meu coração insalubre

já tempo, sabe?
é tempo de ler as páginas e as linhas
que deixamos como fazemos com nossa carne,
por último, no prato.
já é tempo de encarar 
as flores que secaram
é hora de encarar a morte 
daquilo tudo que vivemos.


Camila Barros