quinta-feira, 24 de abril de 2014

Sobre diretas e palavras não cruzadas

          Tenho saudade de quase tudo. A cidade cresceu e os compromissos também. A tecnologia é veloz, mas ainda existem coisas no cotidiano que nos aproximam como humanos.
          Um dos exemplos que tenho saudade – claro que não é algo necessariamente bom – é de quando falta luz. Aqui na minha rua, por exemplo, todos saem das suas casas com as roupas que estão e vão conversar com o vizinho para saber o que houve, ou até mesmo para pedir uma vela, já que às vezes não temos uma lanterna. Os computadores param de funcionar, as redes wi-fi também, um celular descarregado não carrega, e se você não tiver um plano de dados, te resta ligar, e ligar (sim, sem ser a do seu namorado) já é também parte de uma aproximação.
          Tenho saudade de tudo. Esses dias vi um amigo jogando war com outros amigos, minha alegria foi tanta que da próxima irei também; por que eu tenho saudade de muita coisa de quando não era 2014. Eu sei que a tecno é bacana, mas se antes eu não a conhecia, certamente não sentiria falta. Eu sempre soube que não tem como sentir saudade daquilo que não existe. E é por isso que tenho uma saudade límpida de quando eu era criança, de quando criança era criança de verdade, de quando se apanhava por chegar sujo de areia e de quando existia reunião de pais e mestres no colégio.
          Mas a cidade cidade continua crescendo, e os compromissos também.
          Eu vou ficar cá com minha saudade, ficar cá com minha vontade de jogar… E me perguntando sempre qual a necessidade de termos uma vida cronometrada e resumida a casa, carro, trabalho, carro e casa. Não espere faltar luz, não espere seu filho ser viciado, não espere um mês de férias tendo 11 meses no calendário. E se possível, olhe para as pessoas. Nos olhos.
         Pois eu tenho saudade até disso.

camila barros

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