domingo, 20 de setembro de 2015


E a cada veneziana 
uma poesia possuía.

cada espaço
era o tempo certo

de dizer que tu deveria ir;
atrasando o teu relógio sempre.

e cada veneziana
uma poesia possuía.

pra eu esconder da noite
o que te darei por dias.

uma poesia
cada veneziana possuía.

pra chover teus olhos
enquanto eu fecho tudo
pra gente ir dormir.

Camila Barros

domingo, 6 de setembro de 2015

Nem Oswaldo Pessoa sobreviveu; nem Eu


já passaram meses e eu não superei tua ida
tua passagem só de ida.
a mudança do cheio
para o imenso vazio.

fiz milhões de cartas;
rabisquei todas
invalidando tudo que sentia
mesmo sabendo
que nada adiantava.

potencializei a angustia,
não tomei meus remédios
não adotei critérios
e coisa alguma que pudesse.

li O Que Fica
e mais Contradizeres
e ainda assim
não superei tua partida
que deixou pousado em mim
dores, feridas e pancadas
(e em todos que eu inventei).

sinônimos,
heterônimos,
sérgios antunes,
álvaros, ricardos...
todos ficaram esperando em segredo;
todos morreram
como morreu a esperança em dó.

camila barros



Eis minha casa, ou quase



o sol atravessa a barreira invisível que eu criei.
ataca-me e me convence que já é dia
e que já havia
de calçar o chão.

o recado da geladeira me recorda
que hoje é dia de me desculpar
pelas coisas que, ainda assim, não fiz
- mas pensei, e fiz mal. -
me recorda
que
a corda(!)
quase arrebentou pro meu lado;
o mais fraco.

o meu lado é feito de embriaguez e esquecimento
não tem cimento
nem forma ideal.

o meu lado não tem parede,
e como disse antes
a barreira é invisível.

a minha parte destra, detesto
a todo instante eu tenho medo
de perder a mão
ou quebrar um dedo.

acordei!

bebi aquela meia cerveja que não aguentei ontem.
vou tentar mudar as consequências
e em seguida
vou comprar um par de cordas,
sujar as mãos
e construir paredes.

Camila Barros


sábado, 5 de setembro de 2015


desenhei
apontei todas as dores.
colori
o que não deveria ter cor alguma.

lápis de cor
iguais
como meus desenhos estão.
(empilhados e doloridos)

e os apontadores virão
as dores virão
destruir mais.
e as cores; não sei

não sei pintar mais.


camila barros