meu corpo está desconjuntado.
o cigarro está a par da boca
fazendo um par escandaloso
com o cinzeiro do vizinho.
talvez eu tenha sido roubada.
meu corpo está fora do conjunto.
o óculos está em qualquer lugar da casa,
sem pernas. e é como eu realmente me
sinto nesse exato momento.
desconjuntadamente ansiosa.
meu corpo eu nem sei
as vezes sois como uma aurora
escorregadia e mole
que, aparado pela peneira mais barata,
não custa e não brilha,
assim como não amanhece.
então é assim que esse amanhã se assemelha comigo.
e talvez eu tenha sido roubada.
roubaram meu cordão umbilical,
minha lancheira angelical,
e minha infância açúcar e sal.
é por isso que hoje eu sinto como se
meu corpo fosse algo desligado do passado.
sinto meu corpo desconjuntado!
venho me lavando em banho maria
esquentando o que talvez seja comida em mim...
sinto-me roubada e mergulhada
enquanto levaram tudo de novo.
meus sapatos já não tem solado.
eles são a caminhada que eu fiz daqui pra lá
e de lá pra nem sei onde.
meu mapa tá completamente furado.
meu corpo está desconjuntado,
falta-me o pedaço e a hora.
falta-me a glória de completar o segundo grau.
meu corpo está desconjuntado.
minhas luvas substituem as mãos
que queriam pegar nas tuas mãos.
vazios, frios e escuros são
os dedos que me deixaram
para não permitir qual direção apontar.
nem para discar teu telefone e
nem pra escrever como me sinto
então pedi pro meu vizinho escrever
tudo que me foi perdido,
até a não memória de ter lhe dado
cigarros e fósforos
para conseguir me ver melhor
atrás de tanta fumaça;
e assim, sumida.
camila barros
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