sexta-feira, 29 de abril de 2016

Olhando o bloco passar

"Era fevereiro. Ele beirava à janela o mês inteiro! Via pernas, saias, caixas, trompetes. Via morenas, via crianças banguelas (mostrando como as coisas renascem sempre); ouvia novas músicas e sempre um novo jeito de dançar.
Ainda em fevereiro, procurava na multidão a havaiana azul e branca... Passava sol, entrava lua, voltava sol e lá estava ele em busca daquele calçado, que muito provavelmente estaria mordido.
Mais luas, mais sol, e os dias do mês dois findavam e não havia havaiana..."

Ele nunca mais viu um par, aquele par... Mas até hoje, por todos os anos, escrevem crônicas sobre Pirlo, o cachorro do Sr. Francisco. Até hoje nos fazem acreditar que amores podem ser verdadeiros, que podem curar todo mal. Que amores cultivados são fogueiras nas articulações de qualquer um. Um Jornal que nos faz acreditar que amores de carnaval podem dar certo. Um amor entre um Francisco, um par de chinelo pra morder e um Pirlo.

E todo ano continua a mesma coisa. Ele debruça-se na janela, procura seu dono e todos que passam, gritam: Vejam! É o cachorro que fica olhando o bloco passar..."


Camila Barros
Foto: Alciclene Araújo



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