terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Ela amarrou os cabelos pra cima, não queria sentir o peso deles no ombro nu. Tamanha intimidade essa dos cabelos caindo sobre a pele; uma conversa esvoaçante e às vezes embaraçada.
Caminhou dentro de casa sentindo que não deveria mais fazer hora com sentimentos velhos, pois a cada pisada no chão gelado, era a certeza de que as coisas se repetem e que seus cabelos perdem o nó e continuam transando com o corpo involuntariamente.
Lembrou de quantas poesias escreveu e quantas endereçou errado. Quantas ligações para a casa errada. Mais de mil vezes beijou bocas que não sabiam falar sobre quase nada e nadou desesperadamente em corações rasos demais! Chacota da vida, liquidez humana.
Ligou o aplicativo do celular e ouviu uma música; música com mãos e olhos, pois parecia tanto que tinha alguém ali vigiando e apertando o coração, que qualquer um poderia enlouquecer com a presença de nada. Dançou no refrão, arrumou novamente os cabelos. Corpo suado guardando os fios era tudo que não queria... Agonia em pensar.
Sentou no sofá como quem desmaia por querer, olhou para o céu da sua casa que só tem uma luz fluorescente pra oferecer e chorou todo descontentamento guardado. Lágrimas no ouvido, pé no chão gelado, o cabelo já não sabia mais e tudo que enxergava era a escuridão do olho fechado enchendo e secando. Sua boca abria inaudível e desesperada, como quem não diz muita coisa, mas que tem um mar de palavras pra fazer onda na praia alheia.
Minutos depois levantou a cabeça, olhou a sala. Não tinha móveis inúteis; tinha uma tv, uma rede, aquele sofá e um ventilador no três! Cansou de olhar; foi ao pequeno banheiro lavar o rosto, viu o espelho e encarou seu próprio olhar. Não sustentou, quis morrer por um segundo.

Camila Barros

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