terça-feira, 23 de julho de 2024

Ainda sobre o tempo em que as bombas acabam


já é tempo de jogar um rio
nas bombas que envolviam nosso pescoço
sim, já é tempo de não falar 
das guerras quentes,
de deixar esfriar aquela água
que serviria para preparar o café 
que tanto aguardamos.

é tempo de jogar dados 
para escolher a própria sorte

é hora de ignorar as fagulhas 
que respingam na nossa pele
e que não machucam

sim, chegou o momento de guardar
o diploma de amor que ganhamos 
quando nos beijamos a primeira vez
pois naquele momento 
eu compreendi Alexandria inteira.

é hora de despendurar o quadro
que tinha toda a essência
subjetiva do teu sorriso.
pois não quero ver as possíveis cores
que rodeavam sua vida.

venderei o pedaço
do seu coração que me deixou
como um alabastro, por 1,99
na tentativa de amenizar
qualquer calor que ele
tenha me proporcionado

é hora de tirar a magia
dos teus dentes, que quando me mordiam
eu ignorava toda obturação

é hora de enrolar meus dedos
em linhas de costura
e desaprender o caminho de percorrer
que começava na tua testa
passando pelos teus seios e
terminando na insanidade da noite
e no perder das horas
da dança dos teus pés

é hora de jogar os dados 
para escolher a própria sorte

é o momento de esquecer
a proposta matemática de quando
eu contava os pelos da tua coxa
para meus graus melhorarem

e preciso deixar salgar
aquele sangue fino
que passava veia cava a dentro
na tentativa de tornar
meu coração insalubre

já tempo, sabe?
é tempo de ler as páginas e as linhas
que deixamos como fazemos com nossa carne,
por último, no prato.
já é tempo de encarar 
as flores que secaram
é hora de encarar a morte 
daquilo tudo que vivemos.


Camila Barros




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