domingo, 23 de março de 2014

Um mundo chamado algema


E quando tu pensa em pular, para tentar ter dez ou mais minutos de liberdade, sabes que sem asas, morrerás! 
Ninguém nesse mundo consegue ser totalmente livre, pois lhe falta sempre algo. 
Eu até cheguei a imaginar que no pensamento, eu poderia, você poderia... Mas logo entristeci, pois quando se pensa muito, podemos pecar, e se pecamos, podemos ter nossos corações afetados (e a consciência também).
Portanto, eu não conheci ninguém livre, pois ainda não sei - exatamente - sobre a vida dos pássaros. 

Camila Barros

olha nos meus olhos e diz que sabe;
olha nos meus olhos e me morde;
olha pra mim e arde...
pois se queimar, eu cuido de você.

Num tic tac da década de 50



já é hora,
entra e
me 
namora.

já é hora,
senta e
me 
adora.

já é hora,
sente e
me
escuta...

as melhores canções do Presley 
eu separei pra você.

(até hoje)






Camila Barros

Jogo Sujo




jogo sujo é não olhar nos teus olhos;
jogo sujo é não querer tua boca.
é não te desejar;
é não te amar tanto assim do meu jeito.

jogo sujo é isso
jogo sujo é aquilo.

jogo sujo é esquecer o morango;
jogo sujo é brincar com a dificuldade deles mofados;
jogo sujo é me dar livros marcados;
jogo sujo é esquecer do patrick's day!

jogo sujo é osso
jogo sujo é foda.

mas eu não jogo sujo
eu jogo até bem!

pois

meu único 'jogo sujo'
é não deixar seu rosto limpo.


Camila Barros

sexta-feira, 21 de março de 2014

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...


Mario Quintana

quarta-feira, 19 de março de 2014


Horas?


          21:30 e eu queria aquele beijo de inicio de tarde e cheio de vergonha. Sabe, aquele que começa quando eu olho pra tua boca, e entre a tua boca e os teus olhos, tem os teus olhos olhando a minha boca e os meus olhos. Entre os olhos e as bocas, existem as mãos no teu rosto e uma leve inclinação pro lado errado, e é ai que rimos e a vergonha aumenta!
          21:30, eu acho. E eu te beijo lentamente, pra sentir tua boca quente e um pouco saliente. E quando percebo, o teu rosto encaixa no meu e teu abraço encaixa em mim e eu não quero saber se tá frio ou calor lá fora.. por que quando eu te beijo, eu sinto um negócio mais legal que tudo isso.

          (...)
  
          E ainda deve ser 21:30.

Basicamente


segunda-feira, 17 de março de 2014

Tirando todo o agasalho





          A gente tem uma mania doida de ferver e achar que é amor, e as vezes acertamos. Porém, depois de certa idade conseguimos discernir e ir com calma até o pico. Lá é alto demais, lá é frio demais, mesmo que sejamos quentes... e até chegarmos ao topo, vamos dar de cara, vamos dar a cara, vamos dar as mãos, vamos dar uma pausa, vamos tomar algo, vamos conhecer outras pessoas e lugares (e nada é fácil).
          O pico não é desprovido de vida, muito ao contrário, lá é azul e cheio de olhares; e por muitas vezes, alguns se encontram primeiro e outros depois! Alguns avisam que já chegaram, e outros se perdem...
          Eu, por exemplo, to no meio do caminho e quero chegar lá! E se querer chegar significa uma tentativa de te amar; acho que arriscaria dizer que já Te amo.




Camila Barros


domingo, 16 de março de 2014


Tirando o osso do lugar






Minha poesia tem uma vértebra,
e essa vértebra é reservada as galáxias do teu quarto.
A única vértebra é reservada aos teus cuidados,
aqueles de tentar escrever o que é mais bonito e mais doce
(mesmo não querendo ser tanto, pra não enjoar).

Minha poesia, essa carregada de desastre e de alertas,
é pra dizer também que você é bonita,
e que o desenho fino da tua boca é mais imenso quando me beija;
e que teus olhos miúdos, são mais ainda quando acorda!
(mesmo não querendo parecer atenciosa).

E olha menina, eu guardei a vértebra,
guardei os teus detalhes e teus dentes na minha memória ruim.
guardei além disso, minha saliva!
guardei-a para afogar as tuas costas,
por que eu sei que minha poesia e eu temos um mar
minha poesia e eu temos um ar sereno
minha poesia e eu temos o necessário,
até você enxergar a única, de trinta e três que te reservei.

Camila Barros







cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença

leminski 

sexta-feira, 14 de março de 2014

Perplexidades


a parte mais efêmera
de mim
é esta consciência de que existo
e todo o existir consiste nisto
é estranho!
e mais estranho
ainda
me é sabê-lo
e saber
que esta consciência dura menos
que um fio de meu cabelo
e mais estranho ainda
que sabê-lo
é que
enquanto dura me é dado
o infinito universo constelado
de quatrilhões e quatrilhões de estrelas
sendo que umas poucas delas
posso vê-las
fugindo no presente do passado

Ferreira Gullar


Foi deixando Março sair pela porta, que chorou todo Abril
Quando abriu toda janela, secou com meio sol.


Camila Barros

quinta-feira, 13 de março de 2014

C de uma noite que quase caiu.



Estou aqui nessa chuva desesperada.
Estou lavando meus cabelos, meus pés, meus olhos. Estou tomando meus remédios, matando a sede, lavando a rede.

Estou nessa chuva desesperada indo até o portão da tua casa
Pois eu molhei todo meu apartamento só pra pegar as uvas que guardei pra ti, e agora estou desesperada como a chuva, chegando pra te dar o que guardei e pra te chamar para dividir a terra, que já virou lama.

Estamos na chuva, e agora não tem desculpa. Eu lavo teus cabelos, eu lavo teu rosto, eu lavo tua boca cheia de uva. Eu lavo os teus pés, teus seios e ninguém viu nada ainda.

Nem o que sobrou da chuva.

Eu lavo teus dedos, eu molho teu rosto, eu limpo o gosto, eu te dou teus remédios, te deito na rede e vou limpar toda sujeira que deixei, antes mesmo de ser chuva.

Antes de ser assim, desesperada.



Camila Barros

quarta-feira, 12 de março de 2014

Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer

Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor

Vai Saber

Quando o Cá do Fê se foi

  (Leia ouvindo: Miley Cirus - the climb)



  Fernando pegou todas as cartas e presentes, colocou numa sacola e levou ao lixo.
    Ali ele deixou ir embora coisas que, por ventura, não lembraria mais! Deixou ir os papéis de bombons que comprou junto com Caio, na praça, a noite, no dia 23 de Maio. Deixou ir a melhor história escrita sobre a noite de amor que foi a mais quente, a mais linda e a mais cansativa. Deixou ir a memória de saber que ali tinha (e tem) algo inesquecível.
    Quis esquecer, tentou esquecer.
    Caio foi embora. Deixou seu noivo, já ex-noivo, sem notícias, sem beijos, sem calor, sem telefonema, sem recado... Deixou a aliança na tentativa de suprir algo que não conhecia. Deixou aquele objeto que representava tudo e que foi trocado naquela mesma praça, um ano depois de conhecê-lo, a noite, no dia 23 de Maio.
    Os dias para Fernando foram dolorosos, foram amargos, foram de tentar várias vezes por tudo pra fora de casa, foram dias de chorar demasiado e febril. Foi algo tenso. Foi algo que eu jamais desejaria passar! Já para Caio, não sei. Mas vai um recado de Nando pra ele. Onde quer que esteja:

     "Cá, eu ainda tenho guardado a tua aliança. Ela não é mais nossa e eu decidi isso depois de você.
Por um tempo, quando eu chorei muito e te esperei, eu deixei minha barba grande, como você gostava. Eu usei regatas, eu entrei na academia, eu até aprendi a fazer pizza. Eu deixei teu espaço no guarda roupa, deixei tuas revistas no lugar, teus livros, limpei todos. Passaram anos Cá, e você não veio no natal, você não apareceu no meu aniversario, você nem se deu conta que, fora a aliança, deixou seu chinelo favorito aqui e não voltou para pegar. Você não se deu conta que eu me fazia de indiferente para a surpresa (que eu te fazia) ser a melhor e mais emocionante. É isso que pessoas que se relacionam fazem. Elas tentam surpreender. Mas você exagerou Caio; você exagerou.
Eu vou terminar essa tentativa de carta dizendo que eu não tenho mais o teu cheiro no meu nariz, eu não tenho mais a imagem de ti fazendo a barba e vindo de toalha direto pra cama; só uso isso agora pra te alertar que tu não mora mais no meu coração. Foi embora, e eu joguei tudo no lixo. 
Hoje eu sei que todo mundo tem um passado dolorido ou não. Todo mundo amou alguém loucamente.. e conseguiu amar outro, um outro nem tão semelhante assim, mas um outro que mostra uma ou duas coisas novas que sempre teve vontade de fazer, mas que o comodismo não deixava, não deixou, e não deixa. Vou terminar dizendo a ti que no dia 23 de Maio de um ano qualquer, eu fui naquela praça, sentei no nosso banco e eu quis esquecer, eu tentei esquecer e eu consegui."





Camila Barros