domingo, 26 de março de 2017

Enquanto eu me escrevo na tua boca

Ah, teu riso
Tão frouxo e
Tão capaz de
apertar meu peito.

Tão claro e
Tão capaz de
Escurecer minha vista.
Me fazer desmaiar
Amolecer.

E na dureza dos teus dentes
Eu deito sem pressa

Ah, teu sorriso
Tão alinhado quanto
Os ponteiros que demoram e
Que moram
Dentro do tempo e
Que me judia
Por demorar tanto.

E um abrir de boca
Nem sempre é
Sinônimo de sono.
É, então, tudo que eu preciso
Tua cara, meu lar
Teu riso.

Camila Barros

segunda-feira, 13 de março de 2017

Desconstrução

Paralelepípedos são joagados aos meus pés
Faço força para sair
Mas de nada adianta.

Tamanho grito que não sai!
Tamanha queda que não cai!

E paralelepípedos continuam
Enterrando-me até os joelhos
Até um dia eu
Me transformar na torre
Que guarda, sem luz e sem vida
Um som amarelo e agudo
Dentro dos meus lábios.

Camila Barros

domingo, 5 de março de 2017

Boa noite

cheguei em casa!
chamei na chincha
mas nada pude falar,
bati no peito
mas nada pude sofrer.
chorei pra dentro
e molhei tudo.

e aquilo, aquilo que durou um tic
parecia algo tão seguro...

mas não deu certo
mandei beijos pelos olhos,
mas um piscar estragou tudo.
sonhei com a boca meio aberta
deixando aquele espaço pra você chegar
mas o sono veio
e o bocejo desfez todo o combinado.

e só mesmo o relógio
tem intimidade com o tempo.

camila barros