quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Corcel

leia ouvindo "capitão do mato" de tavinho moura
https://open.spotify.com/track/5Br9CyuBFEr9fgoOvLiwzv

corcel
meu corcel desgarrado
vem pro rumo, corcel
a vida é pra esse lado

tem cachorro na pista
urubu-rei pousado
olhando quem passa
pro lado errado.

ah, corcel
meu corcel desgarrado
claridão no caminho tem nome
é dia, um amanhã que se come
é noite, uma certeza que tem
que chega, como chega ninguém

não chega ninguém, corcel
nem cantoria eu escuto
nem lamento manso de homi
nem urrar de animal em perigo

corcel
meu corcel desgarrado
você é meu último abrigo
errado ou certo, é caminho
que será sempre amado
que será sempre sentido.

camila barros

Negação

não dê asa pra se voar em céu baixo
nem calçada ao meio dia
pra quem tá descalço
não dê flor pra quem, cego,
não pode cheirar
nem subida no bonde novo
pra quem não vai viajar.

não dê sombra
pra quem vai embora.
quem mal fica, pouco diz
quem pouco diz, não tem história

então não dê mãozinha
pra quem tem duas inteiras!
remenda palha por palha
quem quer sua própria esteira.

não dê moda de viola
pra quem não senta no chão
não ouve atento o motivo
não ouve a tua canção.

não dê, meu deus,
talento pra desperdiçar.
não dê, meu santo
mata virgem pra quem não vai caçar.

camila barros

O segredo do rosário de maria

mais dia
menos dia
era noite

não fale de maria na rua do rosário!

mais dia
menos dia
era noite

não fale do rosário de maria!

mais dia
menos dia
era noite

maria e seu rosário conversavam baixinho
a prece cansativa e cortante
de quem é tamanhamente errante
por quem é tão igualmente amor.

camila barros

Sertanejo que sumiu

ê tristeza medonha
tão medonha que não tem fim
levaro minha cantiga,
fecharo meu butiquin.

não satisfeito, os vizin
fizero lamento na minha esquina
fecharo meu zói de rapina
que morava dentro de mim.

ê tristeza medonha
sem tamanho de medir
botaro fim na minha história
eu que tanto tinha pra ir

vei bala do céu, moço
num deu nem pra desviá
ê tristeza medonha
olhar o mundo de cá

camila barros




sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Caminho Seco

sai da frente boi manso que eu quero vê
quero vê o balai que inês traz
o sol quente feito a peste não me faz temer
que quase foi-se na viagem minha santa paz.
inês mata; quase morre nesse mundo cão
comeu brasa, comeu fogo, tanto de queimar
fez-se abraço quando viu que eu também voltei
sai da frente ave rara, que ela vai chegar.
vai chegar na melhor hora, vendo seu lugar
e seu balai veio na tampa, tanto derramar
derrubando noite e dia nessa terra seca
mas chegou a doralice, doce e lenta e feita.
na cestinha vei milho, vei doce e rapadura
vei um pão meio dormido, tão cansado dessa lonjura
trouxe alforje e uns calçados de tamanho trinta e nove
trouxe ainda muito mais, trouxe chuva e hoje chove.
fica ai, meu boi maneiro, vigiando a entrada
inês trouxe no balai sua roupa e sua morada.
disse ela bem baixinho, na beira do meu cangote
que chegou de mala e cuida, com amor e muita sorte.

camila barros

Acerta o troco aí

deixa
que eu deixo
como não querer.
esquece o endereço
do meu abrigo
como se pudesse
acontecer.
briga poesia,
chora poesia.
eu deixo
como é história
algo de página,
algo de glória.

vai ver que é acaso
o caso mais
errado dessa vida.

camila barros

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Quanta subjetividade num contentamento

uma ponte
alguém 
um passo
um gostar
um brilho
uma noite
uma ponte
música
outro passo
mais música
mais passos
alguém continua lá
do outro lado da ponte.
uma coragem
uma falta de coragem
um beijo
um abraço
alguém
uma ponte
outro passo
o mesmo alguém que espera
mais alguém que se encanta
quando outro alguém
pensa só em atravessar.

camila barros

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Adendo

não sei se eu, hoje consigo.
vocês sabiam que
existem dois hojes?
um que é agora
e um que é mais que hoje!
todos dois são um presente
que eu peço sempre pra tá dentro...
é como um carrinho de rolimã
e as vezes peço pra minha irmã
me empurrar no hoje agora
logo em outra hora
alguém me empurra amanhã.

quando não houver ninguém,
a gente rema com os pés
mas não sei se eu, hoje consigo
podemos tentar.

camila barros

Diário de asa

eu sempre fui passarinho
sempre fui miúdo e nasci cantando.

apesar de nordestino
tamanho destino, tão ventoso,
me levou pra outro lugar.

fiz ninho, fiz amor
com as nuvens e com as noites estreladas.

quando era muito madrugada
eu parava no céu
e só sabia olhar...
me perguntava o motivo
do céu lá ser tão pingado,
parecia vendaval!

mas como era lindo céu no pantanal...


camila barros

De um verde lugar

tenho saudade dos tucanos no meu quintal nos pés de jambo,
jambos que muitas vezes foram meu café da manhã.
saudade do frio na pele ao acordar
e da falta de coragem pra tomar banho, apesar de quente.
saudades dos passeios de bicicleta
no meio da névoa, que me atrapalhava,
mas ao mesmo tempo se fez vida e
se fez palco pra sonhos e viagens infinitas!

mas como eu sinto falta de quando
armava a barraca na beira do rio
e ver o rio era somente tudo que eu queria ali.

saudade de trafegar na pista molhada
olhando para um céu que se misturava com galhos
e que me levavam sem eu mesmo dirigir
num pneu; num pneu tão responsável
e que era garantidor da minha chegada na calçada de areia.

saudade da canção natural do meio da rua e das ruas vazias
quando eu mesmo, com tanta coragem,
saía a passear comigo e com um bom agasalho!
saudade pantanal no meu peito litoral
quando areia fina não me fez falta
nem tv grande demais se fez filme.

que falta faz não querer ir embora dos bancos da escola
e depois de sentar embaixo d'árvore e conversar com ela!
que saudade tamanha
do tamanho daquele lugar.

camila barros


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A cor do seu cantar e o sabor da ventania

não é justo que o vento sopre
quando eu fecho as janelas.
então, serena noite, também quero flores
venham todos e tragam elas.

abrirei toda a casa,
podem entrar sem pedir.
outros ventos estão aqui
vocês devem se conhecer!

valsas e danças
ouviremos e dançaremos
como quem nasceu sabendo
como quem morreu tentando.

também não é justo que a música pare
quando eu canso de dançar,
além de mim tem algo
além de algo tem alguém...

tem alguém que canta
e que faz vento com suas asas!
então venham flores, água e sol
morar comigo e meu lençol.

claro o dia, linda manhã
janelas abertas
e lá vem meu rouxinol.
vem num cantar tão esperado
enfeitando tantas árvores molengas
janelas sempre abertas
ventos sempre soprando...

fizemos um acordo,
já que continuarei vivendo.

camila barros

domingo, 8 de janeiro de 2017

Pássaro

(de 13 de Abril de 2006)

pra você que já aproveita a vida
eu desejo a felicidade.
pra você que foge no quarto
eu deixo minha liberdade.
pra você que tem medo de altura
eu deixo minha capacidade.
pra você que cria outra vida
eu desejo a coragem!

pra você que não vê
ou finge não olhar
eu deixo meus olhos.
pra você que não conhece a música
eu deixo meus ouvidos.
pra você que não se consegue no fio
eu deixo meu mísero corpo!

agora eu te deixo
a palavra "ensine"
pois foi sem ela
que conheci a má criação de uma criança.

adeus!

camila barros


Remendeira

(de 13 de Abril de 2006)

eu descolo
ela ensina a colar.
eu desmancho
ela ensina a arrumar.
eu choro
ela ensina a sorrir.
eu morro em mim
ela ensina a viver!

eu colo
ela dá parabéns.
eu arrumo
ela arruma também.
eu vivo de sorriso
ela sorri por mim.
eu vivo
e ela morre de rir.

camila barros

Retrato de uma alma nua

(de 29 de Agosto de 2005)

apaixonada, carente,
triste, com saudade!
esse é o amargo fim
de uma alma que muito amou;
é essa a música que toca
quando sabemos a verdade;
é assim que o refrão continua
dizendo aos ouvidos como estou;

é mentindo como mestre
que sofremos por inteiro;

é chorando em paz
que o amor se modifica;
pensamentos fracos
que caem de joelho
nessa alma nua
onde esse amor se edifica.

camila barros

Epitáfio II

(de 11 de Fevereiro de 2006)

eu podia ter cantado
a canção que um dia fiz.
talvez tivesse jeito,
consertar o defeito
pra ter feito você feliz.

eu devia ter insistido
nessa minha invenção!
podia ter dado certo,
podia estar bem perto,
mas onde andava meu chão?

eu podia ter sido forte
atravessado quatro estações.
podia ter gritado
pra te ter ao meu lado
mas tive medo das rebeliões.

eu devia ter consciência
que você era mais forte.
não tentei por ser pequeno,
mas cobra tem seu veneno!
onde estava minha sorte?

eu podia ter percebido
que também fui amado
mas agora esse amor
morreu e acabou
e hoje está encerrado.

camila barros



Playlist

leia ouvindo meu olhar:
https://open.spotify.com/user/camila_bd/playlist/4lhhzAAFa6F6fUTvNbILVm



eu tenho um saquinho de música
e ele se chama "Olhando pro céu".

tenho a sensação de noite,
a sensação de filme,
a sensação de fechar os olhos
e me movimentar
sem sequer mexer.

tenho a sensação de olhar
para tantas outras coisas
como se fossem, na sua infinitude, o céu;
o próprio céu.

camila barros

sábado, 7 de janeiro de 2017

Falso soneto; verdadeiro som.

eu sou as dores que não falam.
as dores nas dobras das esquinas,
nas dobras dos papéis sujos
que andam de mão em mão.

convulsa, com um adendo de desespero!
eu sou uma dor tão imensa
que mencioná-la em alto e bom som
não mostra sua grandeza.

dobras e curvas que passeiam em mim;
gorjeio que passeia também, mas longe,
longe de papéis que andam de mão em mão.

sou as dores que nem mesmo digo,
que nem mesmo existo
e que nem mesmo posso falar.

camila barros

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Tem chuva; tempestade!

nenhum eufemismo
serve de lençol 
para minhas nuvens
em dias de chuva.



Sinopse

ter ninguém é ter possibilidades
mas ao mesmo tempo
é ter ninguém.

ter ninguém é se sentir livre
para chorar e para sofrer
e ao mesmo tempo
é esse sofrido ter ninguém.

eu nunca chego ileso e salvo
quando me encontro comigo.

coqueiros são só folhas,
aquários são só vidro,
bibliotecas são apenas estantes...

eu nunca chego ileso e salvo
quando me encontro comigo
e encontrar comigo
é esse sofrido ter ninguém.

camila barros


segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Quem saberá da farsa?

e de tanto não crer
que deveria te enterrar,
aclamei carpideiras
para chorar a veraz dor.

camila barros